IRC global põe pressão sobre a Zona Franca da Madeira Acordo prevê uma taxa de pelo menos 15%. Na Madeira é de 5%. Fiscalistas admitem revisão de critérios. O acordo global, também assinado por Portugal, define um IRC de pelo menos 15% a nível global. Mas a taxa cobrada pela Zona Franca da Madeira é de 5%. Fiscalistas admitem revisão de critérios do regime. Susana Paula | [email protected] O acordo mundial para criar uma taxa de IRC de pelo menos 15% a nível global põe pressão sobre a Zona Franca da Madeira, onde é permitido às empresas pagarem uma taxa inferior, de 5%. Portugal foi um dos 130 países que, na passada quinta-feira, assinaram, na OCDE, um acordo para que as multinacionais paguem uma taxa de pelo menos 15% sobre o seu rendimento, independentemente da sua localização, tornando menos vantajoso que transfiram lucros para jurisdições com impostos mais baixos. Acontece que a Zona Franca da Madeira tem um regime preferencial, que permite às empresas lá licenciadas pagarem uma taxa de IRC inferior, de 5%, sobre parte dos seus rendimentos tributáveis (com tectos máximos que variam consoante o número de empregos criados na região), o que está a colocar dúvidas aos fiscalistas ouvidos pelo Negócios. “A Zona Franca da Madeira é, neste momento, um ponto de interrogação. Como é que uma taxa de 5%, ainda que justificada como auxílio de Estado, se enquadra?”, questiona Nuno da Cunha Barnabé, sócio da Abreu Advogados. Para o fiscalista, a dúvida é perceber como é que os auxílios de Estado, dedicados ao desenvolvimento económico de uma região, se enquadram no novo imposto global. “Não é um problema só de Portugal, mas de várias jurisdições da União Europeia”, salienta. Nuno da Cunha Barnabé acredita que a questão será clarificada, mas “obviamente pode – e provavelmente vai – impactar a atratividade da região, sobretudo da zona institucional”. A Zona Franca madeirense, ou Centro Internacional de Negócios da Madeira, prevê benefícios em três áreas: industrial, de serviços e de navios. “O ‘shipping’ passa ao lado, porque há uma exceção direta, mas parte dos serviços não sei”, afirma o sócio da Abreu. Já Rosa Areias, da consultora PWC, admite que no futuro “poderá haver uma revisão do regime, quer quanto aos critérios, quer à tributação mínima a ser determinada”. No entanto, a fiscalista considera que tanto no regime em vigor, que atribui benefícios até 2027, como nas licenças concedidas até ao final deste ano, a nova taxa mínima de IRC a nível global “não terá impacto”. O acordo firmado segue para discussão do G20 no final desta semana, mas só deverá ter luz verde final em outubro, numa segunda reunião das 20 maiores economias mundiais. Depois, será preparado um enquadramento legal modelo para que os países possam aplicar o novo imposto mínimo, a partir de 2023. E nessa altura, o que acontecerá à Zona Franca? “Depende do que for considerado taxa mínima e das exceções”, afirma Rosa Areias. Para a “tax partner” da PWC, “a existir, o regime da Zona Franca terá de ser analisado pela Comissão Europeia: tem um objetivo específico de uma região ultraperiférica”. Por isso, “terá de ser analisado à parte” do imposto global, considera a fiscalista. Recorde-se que as empresas licenciadas no âmbito do regime IV podem beneficiar de um IRC de 5% até 2027, mas com critérios mais rigorosos, depois de, em 2020, Bruxelas ter detetado irregularidades nos benefícios fiscais atribuídos no regime anterior (III) e exigir a sua devolução ao Estado. Uma decisão vista como uma “ameaça” à Zona Franca e às receitas fiscais da região autónoma, que ficam agora ainda mais pressionadas com o novo imposto mínimo global. ----- Que países furaram o IRC global? Apesar de o imposto mínimo global a aplicar às multinacionais ter tido o apoio da maioria dos países reunidos no Enquadramento Inclusivo da OCDE, não houve unanimidade. Foram nove (entre 139) os países que se recusaram a assinar a proposta. Entre eles, a Irlanda e os Barbados, que, juntos, causaram perdas fiscais de quase 10 mil milhões de euros pelos regimes fiscais mais favoráveis que oferecem. A conclusão é da ONG internacional Tax Justice Network, que estuda o impacto destes regimes fiscais. Por outro lado, países como a Nigéria e o Quénia opuseram-se ao acordo por o considerarem injusto. 1 – Irlanda Está no ‘top’ 15 dos países que mais perdas fiscais infligem a outros países. Todos os anos, as multinacionais deixam 5,7 mil milhões de euros em IRC no país, para onde transferem os seus lucros de modo a pagarem menos impostos do que os exigidos por outros países. Com uma taxa estatutária de 12,5% e uma taxa efetiva de 7,8%, a Irlanda tem sido um dos principais opositores do acordo. 2 – Estónia A Estónia não é considerada um paraíso fiscal, nem causou perdas fiscais a outros países pelo seu enquadramento fiscal, segundo a Tax Justice Network. No entanto, com uma taxa efetiva de 8,16%, a Estónia acabou por se excluir do acordo por considerar que não estava preparada para “apoiar totalmente” a proposta, considerando-a ainda “demasiado vaga”. 3 – Hungria A Hungria é responsável pela perda anual de cerca de 830 milhões de euros a outros países pelo regime mais favorável que pratica e que passa por exigir que as empresas paguem 9% sobre o seu lucro. Para o governo de Orbán, o IRC mínimo “vai obstruir o crescimento económico” do país e 15% é “demasiado alto”. Ainda assim, a Hungria diz estar disponível para negociar. 4 – Sri Lanka O Sri Lanka foi o único país asiático a opor-se ao acordo, já que a China acabou por dar luz verde ao novo imposto mínimo, depois de duras negociações na OCDE. O país tem uma taxa efetiva de IRC de 12,3% e nem é dos países que causam maiores perdas fiscais: arrecada cerca de 20 milhões com o seu regime mais favorável. Por outro lado, perde todos os anos 100 milhões, diz a TJN. 5 – Peru Segundo a Tax Justice Network, o Peru não é responsável por infligir perda de receita em sede de IRC a outros países. Pelo contrário, os regimes mais favoráveis fazem com que o Peru perca cerca de mil milhões de euros em receitas fiscais, dos quais 840 milhões só em IRC. O país cobra às empresas uma taxa efetiva de 31,4%. E o imposto tem um peso importante no total das receitas do país. 6 - Barbados Com uma taxa efetiva de 4,75%, o regime mais favorável que os Barbados oferecem ás empresas resulta numa perda de 3,8 mil milhões de euros em receitas fiscais que outros países receberiam. Considerados um paraíso fiscal, os Barbados recusaram o avanço da taxa mínima, considerando que tinha impactos na soberania dos países, ao impedi-los de definir as suas politicas fiscais. 7 - São Vicente e Granadinas As ilhas de São Vicente e Granadinas são um paraíso fiscal, usado especialmente pelo anonimato da detenção das empresas e serviços bancários. Por esse motivo, a Tax Justice Network não tem dados fiscais sobre o país. Apesar de já ter estado na lista negra da União Europeia, começou a implementar as exigências de maior transparência. 8 - Nigéria A Nigéria perde anualmente, com as práticas abusivas permitidas por paraísos fiscais, cerca de 8,9 mil milhões de euros. Longe de ser um regime fiscalmente mais favorável, com uma taxa efetiva de 57,8%, a recusa da Nigéria ao acordo foi vista como uma tomada de posição em favor das economias mais pobres que participaram na discussão, já que tinha um assento destacado no plenário. 9 - Quénia O Quénia perde, anualmente, cerca de 420 milhões de euros em IRC com práticas fiscais abusivas, incentivadas por regimes mais favoráveis. Com uma taxa efetiva de IRC que ronda os 46%, o Quénia opõe-se ao acordo global pela forma como as receitas do imposto mínimo serão distribuídas: vão ser os países a sede das multinacionais, principalmente países ricos, a receber o extra. ----- Suíça aprovou IRC global A Suíça não está entre os nove países que ficaram de fora do acordo obtido no fórum realizado no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que permitiu alcançar um compromisso, firmado por 130 países, com vista à criação de uma taxa mínima global a aplicar sobre as empresas. Assim, e ao contrário do que consta na edição da sexta-feira passada, dia 2 de julho, do Negócios, a confederação helvética está entre os 130 países signatários do acordo. Foram 130 os países, incluindo Portugal, que, na semana passada, deram o seu acordo a um IRC de pelo menos 15%, a aplicar a nível global. ----- As linhas com que se cose o IRC mínimo Uma taxa de pelo menos 15% a exigir parte dos lucros de cerca de 100 multinacionais – estes são os principais objetivos do novo IRC global, que deverá estar no terreno em 2023. Como vai funcionar o imposto global? O acordo define uma taxa mínima global de 15%, mas isto não quer dizer que todos os países devem aumentar o seu IRC para essa taxa. Significa antes que os lucros das multinacionais seriam sujeitos a uma taxa efetiva mínima de 15%. Por exemplo, no caso de uma multinacional alemã que aloca os seus lucros à Irlanda, com uma taxa efetiva de 5%, a Alemanha ficaria com o direito de tributar os 10% restantes. Sobre que empresas incide o IRC mínimo? A proposta foca-se nas 100 maiores e mais lucrativas multinacionais, independentemente do tipo de negócio, digital ou não. Os países podem reivindicar o direito de tributar parte dos seus lucros, até 20% acima de uma margem de lucro de 10%. Quais são os próximos passos? Depois do acordo alcançado na quinta-feira pela OCDE, o G20 dos próximos dias 9 e 10 de julho vai analisar a proposta e, segundo já escreveu a Reuters, deve dar o seu aval ao acordo dos 130 países. No entanto, a medida tem de ser aprovada pelo Congresso norte-americano, possivelmente ainda este mês, e só voltará a ser discutida pelo G20 previsto para outubro. Quando é que o IRC mínimo está em vigor? Depois da reunião do G20 de outubro, o acordo será depois completado com um plano de implementação, prevendo-se a criação de legislação modelo e de um tratado multilateral, em 2022, para que o imposto chegue ao terreno em 2023.
IRC global põe pressão sobre a Zona Franca da Madeira
IRC global põe pressão sobre a Zona Franca da Madeira Acordo prevê uma taxa de pelo menos 15%. Na Madeira é de 5%. Fiscalistas admitem revisão de critérios. O acordo global, também assinado por Portugal, define um IRC de pelo menos 15% a nível global. Mas a taxa cobrada pela Zona Franca da Madeira é de 5%. Fiscalistas admitem revisão de critérios do regime. Susana Paula | [email protected] O acordo mundial para criar uma taxa de IRC de pelo menos 15% a nível global põe pressão sobre a Zona Franca da Madeira, onde é permitido às empresas pagarem uma taxa inferior, de 5%. Portugal foi um dos 130 países que, na passada quinta-feira, assinaram, na OCDE, um acordo para que as multinacionais paguem uma taxa de pelo menos 15% sobre o seu rendimento, independentemente da sua localização, tornando menos vantajoso que transfiram lucros para jurisdições com impostos mais baixos. Acontece que a Zona Franca da Madeira tem um regime preferencial, que permite às empresas lá licenciadas pagarem uma taxa de IRC inferior, de 5%, sobre parte dos seus rendimentos tributáveis (com tectos máximos que variam consoante o número de empregos criados na região), o que está a colocar dúvidas aos fiscalistas ouvidos pelo Negócios. “A Zona Franca da Madeira é, neste momento, um ponto de interrogação. Como é que uma taxa de 5%, ainda que justificada como auxílio de Estado, se enquadra?”, questiona Nuno da Cunha Barnabé, sócio da Abreu Advogados. Para o fiscalista, a dúvida é perceber como é que os auxílios de Estado, dedicados ao desenvolvimento económico de uma região, se enquadram no novo imposto global. “Não é um problema só de Portugal, mas de várias jurisdições da União Europeia”, salienta. Nuno da Cunha Barnabé acredita que a questão será clarificada, mas “obviamente pode – e provavelmente vai – impactar a atratividade da região, sobretudo da zona institucional”. A Zona Franca madeirense, ou Centro Internacional de Negócios da Madeira, prevê benefícios em três áreas: industrial, de serviços e de navios. “O ‘shipping’ passa ao lado, porque há uma exceção direta, mas parte dos serviços não sei”, afirma o sócio da Abreu. Já Rosa Areias, da consultora PWC, admite que no futuro “poderá haver uma revisão do regime, quer quanto aos critérios, quer à tributação mínima a ser determinada”. No entanto, a fiscalista considera que tanto no regime em vigor, que atribui benefícios até 2027, como nas licenças concedidas até ao final deste ano, a nova taxa mínima de IRC a nível global “não terá impacto”. O acordo firmado segue para discussão do G20 no final desta semana, mas só deverá ter luz verde final em outubro, numa segunda reunião das 20 maiores economias mundiais. Depois, será preparado um enquadramento legal modelo para que os países possam aplicar o novo imposto mínimo, a partir de 2023. E nessa altura, o que acontecerá à Zona Franca? “Depende do que for considerado taxa mínima e das exceções”, afirma Rosa Areias. Para a “tax partner” da PWC, “a existir, o regime da Zona Franca terá de ser analisado pela Comissão Europeia: tem um objetivo específico de uma região ultraperiférica”. Por isso, “terá de ser analisado à parte” do imposto global, considera a fiscalista. Recorde-se que as empresas licenciadas no âmbito do regime IV podem beneficiar de um IRC de 5% até 2027, mas com critérios mais rigorosos, depois de, em 2020, Bruxelas ter detetado irregularidades nos benefícios fiscais atribuídos no regime anterior (III) e exigir a sua devolução ao Estado. Uma decisão vista como uma “ameaça” à Zona Franca e às receitas fiscais da região autónoma, que ficam agora ainda mais pressionadas com o novo imposto mínimo global. ----- Que países furaram o IRC global? Apesar de o imposto mínimo global a aplicar às multinacionais ter tido o apoio da maioria dos países reunidos no Enquadramento Inclusivo da OCDE, não houve unanimidade. Foram nove (entre 139) os países que se recusaram a assinar a proposta. Entre eles, a Irlanda e os Barbados, que, juntos, causaram perdas fiscais de quase 10 mil milhões de euros pelos regimes fiscais mais favoráveis que oferecem. A conclusão é da ONG internacional Tax Justice Network, que estuda o impacto destes regimes fiscais. Por outro lado, países como a Nigéria e o Quénia opuseram-se ao acordo por o considerarem injusto. 1 – Irlanda Está no ‘top’ 15 dos países que mais perdas fiscais infligem a outros países. Todos os anos, as multinacionais deixam 5,7 mil milhões de euros em IRC no país, para onde transferem os seus lucros de modo a pagarem menos impostos do que os exigidos por outros países. Com uma taxa estatutária de 12,5% e uma taxa efetiva de 7,8%, a Irlanda tem sido um dos principais opositores do acordo. 2 – Estónia A Estónia não é considerada um paraíso fiscal, nem causou perdas fiscais a outros países pelo seu enquadramento fiscal, segundo a Tax Justice Network. No entanto, com uma taxa efetiva de 8,16%, a Estónia acabou por se excluir do acordo por considerar que não estava preparada para “apoiar totalmente” a proposta, considerando-a ainda “demasiado vaga”. 3 – Hungria A Hungria é responsável pela perda anual de cerca de 830 milhões de euros a outros países pelo regime mais favorável que pratica e que passa por exigir que as empresas paguem 9% sobre o seu lucro. Para o governo de Orbán, o IRC mínimo “vai obstruir o crescimento económico” do país e 15% é “demasiado alto”. Ainda assim, a Hungria diz estar disponível para negociar. 4 – Sri Lanka O Sri Lanka foi o único país asiático a opor-se ao acordo, já que a China acabou por dar luz verde ao novo imposto mínimo, depois de duras negociações na OCDE. O país tem uma taxa efetiva de IRC de 12,3% e nem é dos países que causam maiores perdas fiscais: arrecada cerca de 20 milhões com o seu regime mais favorável. Por outro lado, perde todos os anos 100 milhões, diz a TJN. 5 – Peru Segundo a Tax Justice Network, o Peru não é responsável por infligir perda de receita em sede de IRC a outros países. Pelo contrário, os regimes mais favoráveis fazem com que o Peru perca cerca de mil milhões de euros em receitas fiscais, dos quais 840 milhões só em IRC. O país cobra às empresas uma taxa efetiva de 31,4%. E o imposto tem um peso importante no total das receitas do país. 6 - Barbados Com uma taxa efetiva de 4,75%, o regime mais favorável que os Barbados oferecem ás empresas resulta numa perda de 3,8 mil milhões de euros em receitas fiscais que outros países receberiam. Considerados um paraíso fiscal, os Barbados recusaram o avanço da taxa mínima, considerando que tinha impactos na soberania dos países, ao impedi-los de definir as suas politicas fiscais. 7 - São Vicente e Granadinas As ilhas de São Vicente e Granadinas são um paraíso fiscal, usado especialmente pelo anonimato da detenção das empresas e serviços bancários. Por esse motivo, a Tax Justice Network não tem dados fiscais sobre o país. Apesar de já ter estado na lista negra da União Europeia, começou a implementar as exigências de maior transparência. 8 - Nigéria A Nigéria perde anualmente, com as práticas abusivas permitidas por paraísos fiscais, cerca de 8,9 mil milhões de euros. Longe de ser um regime fiscalmente mais favorável, com uma taxa efetiva de 57,8%, a recusa da Nigéria ao acordo foi vista como uma tomada de posição em favor das economias mais pobres que participaram na discussão, já que tinha um assento destacado no plenário. 9 - Quénia O Quénia perde, anualmente, cerca de 420 milhões de euros em IRC com práticas fiscais abusivas, incentivadas por regimes mais favoráveis. Com uma taxa efetiva de IRC que ronda os 46%, o Quénia opõe-se ao acordo global pela forma como as receitas do imposto mínimo serão distribuídas: vão ser os países a sede das multinacionais, principalmente países ricos, a receber o extra. ----- Suíça aprovou IRC global A Suíça não está entre os nove países que ficaram de fora do acordo obtido no fórum realizado no âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que permitiu alcançar um compromisso, firmado por 130 países, com vista à criação de uma taxa mínima global a aplicar sobre as empresas. Assim, e ao contrário do que consta na edição da sexta-feira passada, dia 2 de julho, do Negócios, a confederação helvética está entre os 130 países signatários do acordo. Foram 130 os países, incluindo Portugal, que, na semana passada, deram o seu acordo a um IRC de pelo menos 15%, a aplicar a nível global. ----- As linhas com que se cose o IRC mínimo Uma taxa de pelo menos 15% a exigir parte dos lucros de cerca de 100 multinacionais – estes são os principais objetivos do novo IRC global, que deverá estar no terreno em 2023. Como vai funcionar o imposto global? O acordo define uma taxa mínima global de 15%, mas isto não quer dizer que todos os países devem aumentar o seu IRC para essa taxa. Significa antes que os lucros das multinacionais seriam sujeitos a uma taxa efetiva mínima de 15%. Por exemplo, no caso de uma multinacional alemã que aloca os seus lucros à Irlanda, com uma taxa efetiva de 5%, a Alemanha ficaria com o direito de tributar os 10% restantes. Sobre que empresas incide o IRC mínimo? A proposta foca-se nas 100 maiores e mais lucrativas multinacionais, independentemente do tipo de negócio, digital ou não. Os países podem reivindicar o direito de tributar parte dos seus lucros, até 20% acima de uma margem de lucro de 10%. Quais são os próximos passos? Depois do acordo alcançado na quinta-feira pela OCDE, o G20 dos próximos dias 9 e 10 de julho vai analisar a proposta e, segundo já escreveu a Reuters, deve dar o seu aval ao acordo dos 130 países. No entanto, a medida tem de ser aprovada pelo Congresso norte-americano, possivelmente ainda este mês, e só voltará a ser discutida pelo G20 previsto para outubro. Quando é que o IRC mínimo está em vigor? Depois da reunião do G20 de outubro, o acordo será depois completado com um plano de implementação, prevendo-se a criação de legislação modelo e de um tratado multilateral, em 2022, para que o imposto chegue ao terreno em 2023.